Não sei bem onde vou e essa escrita vem de um incômodo sobre as práticas de pesquisa e ensino: ainda lhes escondemos os processos, ao menos no campo da História. O “tom de certeza” (como observou Didi-Huberman) nunca deixou de me perturbar. Como os textos poderiam ser tão perfeitos, isentos aos tropeços? Eu andei por vias muito tortas e acidentadas e creio que isso acabou por se revelar, inadvertidamente, nos meus textos, embora eu tenha feito como todo mundo: vamos fingir que estou muito certa e segura do que digo, do que escrevo. Pois bem, é tudo mentira. Não sei o que escrevo até que esteja no papel. E quando o texto chega ao plano da tela ou do papel, me dou conta dos furos e das fraturas, tudo fazendo água e erodindo minhas ideias perfeitamente elaboradas na mente. Essa sim, capaz de acolher os maiores disparates sem estremecimentos maiores. O papel aceita tudo, dizem. Não é verdade. De fato, o papel é seletivo e pornográfico: ele escolhe a falha e leva o foco para ela, deixando-a exposta, sob holofotes. Mas quando ensino, também faço isso: tapo os furos dos argumentos de outros autores; deixo passar minhas dúvidas sobre o que afirmam. Será um subterfúgio para esconder as minhas próprias falácias e fracassos? Bem pode ser.
Esse espaço é para isso. Para que eu tenha o compromisso de inventariar as minhas dúvidas e tropeços; enfim, inventariar minhas interrogações.