A escrita me intimida. Deixar esse vestígio é perigos. Temo, sobretudo, o próprio temor. Temo também as leituras e desleituras, as interpretações. Temo que alguém encontre, num ponto final ou ponto e vírgula qualquer, o signo que me delineou e me abandonou.
Desenho. Não pode deixar de ser. Uma linha que traça fronteiras ou vinca a matéria. O que quero dizer? Ainda não sei. Apenas despejar aqui essas sequências de letras reverberando sons e imagens.
Sou um caracol que, à medida que se arrasta, tenta apagar seu gosmento e brilhante rastro. Deixar rastros. Eis a tarefa. Marcar, fincar e, depois, sumir.
Largada. Lagarta.
E, por outro lado, é preciso registrar, de algum modo, minha vulnerável existência.
Deixe-me em paz com as minhas letras. Eu que não sabia usá-las, colocá-las a meu serviço. Agora sei? Ou são as letras que me ditam o que sou? Está enganado quem pensa que gerencia o signo. Eles são mais livres do que qualquer um de nós.
Temo, então, a liberdade do signo. Esse dá-se a qualquer um, oferece a tênue possibilidade de significar-se, ou seja, tornar-se signo.
Não se trata do ser. Trata-se do eterno tornar-se.
E, depois, morrer.
***
Caminho. Na calçada uma linha vermelha delineia uma área retangular. Alguém antes de mim avisa que é preciso demarcar um espaço para existir. Serão as mulheres e homens animais territoriais como gatos e cães? Não saberia dizer, embora a quantidade de fronteiras, muros e cercas acumuladas nos chãos e nos mapas sugerem pistas. E, no entanto, o retângulo não se fecha. Há ainda um espaço para as trocas.
***
Desviei. Não pude invadir aqueles espaço, que, se não é sagrado, tampouco pode ser profanado.