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Para quê?

Que fazer com um blog? Faturas pagas: domínio e hospedagem. Uma pequena, mas significativa quantia ao ano e nada. Palavras estranhas. Planejar, mil vídeos, calendário editorial, SEO e nada. Nada implementado. E nada escrito. Nada. Para quê escrever? É um desatino. Então mais uma regra: sem eu. Desconectar da primeira pessoa do singular e suas derivações. Ficar à deriva. Distância. Uma criança diria: chaaatooo. Será mesmo. Buscar a desincumbência (não sei se a palavra existe) é fazer. Então que seja assim. Sem referências fontes ou evidências. Que vão todos ao inferno. Chove.
A entrevista da Marguerite Duras com a diretora de um presídio: desacordo. Uma mulher guarda, custodia outras trezentas mulheres. Quem seriam? Tendo em vista puni-las a diretora as coloca em um recinto destituídas de tudo. Talvez menos de comida e do mobiliário necessário às necessidades básicas. Fezes, xixi. De resto, ficam no vazio, presentes apenas a si mesmas e às paredes. Sem contato externo. Isso seria suportável para alguns. Sem meios de expressão. Não podem ler. Tampouco escrever. Tudo tem que ser suportado no pensamento que é, por princípio, desprovido de suporte. Mas algo que ali se inscreve, nesse lugar sem suporte que é a alma, de modo que a mulher acumula, dentro (que interior seria esse?) de si, essas inscrições que não pode impor às outras matérias. Talvez mordam a cadeira (haverá alguma?), a cama. Desenhar com a colher na parede aumentaria sua pena? Uma marca de mordida seria uma maneira de provar-se viva. Ainda faltam dezessete minutos.
Uma página. O que é? Um livro? O que é? Por que escrevemos uns aos outros? Nas redes sociais. Não quero falar disso. É uma péssima linha de reflexão.
Sonho: em uma enorme construção de madeira acontecia a premiação de um festival de cinema. Ao centro, desenrolava-se uma escada espiralada. Cartazes dos clássicos do cinema nacional (podemos falar de nacional ao nos referirmos ao Brasil? Existiu, um dia, essa nação? Persiste ou já se desfez?) sucedem-se em suas paredes. Uma espiral sem fim, eterna. Do seu abismo emergem, lenta e consistentemente, cinzas. Tomam tudo em sua flacidez mortífera. Comportam-se, essas cinzas, como areia movediça: a agitação a atiça, a fortalece. Suas vítimas tentam ficar imóveis. O destino é o mesmo, apenas mais lento. 29m33s.

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